terça-feira, 10 de abril de 2012

Futebol político



foto do senador Demóstenes Torres
Tô de boa, tô no esquema. Quem precisa de partido?
Demóstenes Torres, senador do partido Democratas (DEM), formado em direito, ligado por uma forte amizade ao chefe da máfia dos caça-níqueis, Carlinhos Cachoeira.  Segundo o que foi apurado pela PF, a relação entre os dois ia desde troca de favores banais até a interferência no andamento de projetos de leis. Ele ia ser expulso do partido, mas nem foi preciso. Pró-ativo, Demóstenes pediu para sair. Mas só do partido, ele continua exercendo o cargo de senador (sem partido) e a gente continua suando para pagar o salário dele, montante que a maioria vai levar algumas incarnações para obter.


E ano passado? Jaqueline Roriz foi absolvida pelo plenário da Câmara por 265 votos a 166. Mesmo com um vídeo que mostra a deputada recebendo dinheiro, ela foi absolvida, como costuma acontecer com qualquer político que rouba bastante lá pelos lados de Brasília.


Ninguém fez nada, ninguém está nem ai, não virou nem um inútil Trending Topics, e vai ficar por isso mesmo. O que, claro, vai contribuir para que a roubalheira nunca acabe lá na casa do povo.


Damos o OK para eles e eles continuam roubando, portanto.

Tenho uma ideia simples para acabar com esse lamentável cenário e transformar todos os cidadãos do Brasil em fervorosos seres politizados. Investindo na educação, você diz? Não, isso é algo a longuíssimo prazo, quase prazo infinito. Minha solução é instantânea e muito mais eficiente.

Bastaria fazer uma reforma no Planalto. Não uma reforma política nem tributária, porque essas a gente sabe que não serão feitas mesmo. Digo uma reforma no sentido literal da palavra. Derrubar aquilo tudo e construir um mega estádio de futebol, o maior do país, com design de Niemeyer!


Todas as votações seriam decididas em animadas partidas formadas pelos times a favor e contra determinado projeto de lei. Assim o povo entenderia como funcionam as votações e a política e, rapidamente, estaria envolvido.


Estádio Central Federal lotado em dia de clássico Governo X Oposição, a torcida de bandeira na mão, tinta no rosto (caras pintadas voltando?), pais, filhos e a família inteira indo ao estádio e gritando a favor de mais um gol para a emenda que acaba com a mensalidade da assinatura de telefonia fixa. Pense bem: futebol agrada a todas as classes sociais, todo mundo entende e palpita, todo mundo é técnico nas horas vagas e tem a sensação íntima de que seria muito melhor que o técnico do time. As pessoas acompanham o time de perto, se revoltam e botam para quebrar quando alguém sai da linha. Imagine esse engajamento voltado à política.  

Nos bares, as discussões em torno da TV seriam:

— Seu partido não aprovou nenhum projeto de lei no campeonato ainda, que merda de atuação, o meu tem 3 vitórias consecutivas, rapá, é o bonde do Solzão  sem freio!
— Mas vocês só aprovaram projetinho de nada, quando a gente aprovar o nosso vai ser só projetão irado, é Verdão! Quem tem mais torcida? quem tem mais torcida!?(reparem que a paixão é tão grande que os torcedores se sentem legítimos integrantes do time, mais um benefício que a medida iria trazer).

duas figurinhas mostrando os deputados Tiririca e Manuela Davila como se fossem figurinhas de futebol
Nas escolas, as crianças estariam eufóricas colecionando as figurinhas do Campeonato Político do Brasil, o brasileirão.
— Eu tenho o Tiririca repetido, quem quer trocar?
— Eu tenho o Maluf, quer trocar?
— Tá maluco? Um Tiririca vale mais que um Maluf. Troco por duas, oferece mais uma ai.






Nos escritórios, o pessoal estaria numa animada discussão sobre o resultado de seus times no Cartola.

— Não acredito que você escalou o Garotinho! O Garotinho, Ferreirinha? Onde tava com a cabeça? — Minha aposta pra essa rodada é  Manuela D´Ávila.  Parte pra cima deles, Manu, pra cima deles!

Deputado fez gol contra e votou projeto contra o povo, no outro dia era revolta em massa nas ruas, pedrada na sede do partido, ataque ao carro do deputado na saída do jogo.

— Nunca mais voto nesse otário, fdp!

Pode-se até imaginar até como seriam surreais algumas situações caso a medida já tivesse sido implantada:  Após uma falta gritante cometida por Daniel Dantas e mostrada em detalhes no replay da jogada e também no tira-teima, o juiz da partida, Gilmar Mendes, decide não expulsar Dantas de campo e, pela primeira vez na história, ouve a multidão que acompanhava o jogo gritar: JUIZ LADRÃO! JUIZ LADRÃO!  (sem contar diversas outras ofensas cabeludas à sua pobre mãezinha).

Enquanto isso, no CSDB (Clube da Social Democracia Brasileira), o presidente e técnico, Sérgio Guerra, está preparando a escalação de seu time para uma importante partida.
Em meio à discussão, surge José Serra, exigindo ser escalado como atacante do time.
— Guerra, tem que ser eu. Eu criei a lei dos genéricos, vou colocar quatro professores em cada sala de aula do Brasil, vou tornar a nota fiscal paulista nacional, vou levar a linha 4 do metrô até Manaus, levar chuva ao sertão nordestino e irei descobrir a cura para a AIDS. Só golaço! Tem que ser eu!
— Você não tem saúde para correr nem metade do primeiro tempo, Serra. — intervém Aécio Neves.
— Eu sou jovem e disposto, professor — continua Aécio — Deixa que eu seja o atacante.
 do CSDB.   
— Isso de que eu não consigo correr é trololó petista! — protesta Serra — Deixe-me jogar e provarei que posso ser artilheiro.
Decidido a testar as capacidades de Serra, Sérgio Guerra o escala para um amistoso no Rio de Janeiro. Durante a partida, Serra é atingido na cabeça por um objeto atirado pela torcida adversária. Alguns dizem que foi uma bolinha de papel, Serra afirma ter sido um fragmento de meteoro, com cerca de 1 kg, muito perigoso.

— Essa coisa já extinguiu os dinossauros no passado, poderia ter me matado. — diz o jogador durante a entrevista coletiva, após realizar uma tomografia computadorizada.

Lula, por sua vez, adoraria e apoiaria veementemente a ideia. Seria contratado como comentarista esportivo. Pela primeira vez, saberia tudo o que estava rolando no Planalto. Não ia ter um lance que ele alegaria desconhecimento.

E quanto aos casos de Demóstenes e Roriz? Absolvidos pela CBFP (Confederação Brasileira de Futebol Político) mesmo tendo cometido crimes que prejudicaram vários times e torcedores,ambos estariam agora escondidos sob forte sigilo e segurança. Em pânico, devido ao medo de um grande grupo de torcedores revoltados que destruíram a Câmara e o Senado completamente após os julgamentos. 

Por fim, essa medida se mostraria uma ótima maneira de nos livrarmos dos políticos muito ruins (ou muito bons, dependendo do ponto de vista), pois aqueles que se destacassem muito logo seriam negociados e exportados para os clubes Europeus. Seria uma espécie de troco pelo que fez Portugal cerca de quinhentos anos antes.

Acha a ideia absurda? Pense bem, Romário e Bebeto já estão na área.


UPDATE (11/04): A ideia começa a ficar menos improvável:

Neymar e Santos recebem homenagem na câmara dos deputados

Neymar e Santos recebem homenagem na câmara dos deputados



2 comentários:

  1. hahahahaha...criatividade ímpar essa sua. Só faltou dizer que as marias-planaltos iam virar marias-chuteiras =P

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    1. Boa! Acho que vou acrescentar um parágrafo falando que em vez de se envolverem em escândalos com corrupção, os políticos se envolveriam em escândalos com travestis =P

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