O discurso preparava o terreno para anunciar seu mais novo projeto social, em parceria com o governo federal. O “Eu te amo e open bar para todos” garantiria a inclusão de cachaça (agora patrimônio histórico e cultural do Brasil) e Viagra na cesta básica e acesso a esses itens para famílias que recebessem até um salário mínimo.
Nada disso me importava nesse momento, precisava terminar o texto ainda hoje. Peguei o controle remoto e passei pelo canal do tempo, passei pelo Big Brother International, Big Bother Macaé (esses regionais não me interessavam a princípio, mas cresciam muito recentemente), Big Brother GLBT, Big Brother dos famosos, Big Brother Retrô, Big Brother Cult até chegar ao Big Brother 365, a grande competição que duraria até o fim do ano e mobilizava a maior audiência.
Precisava fazer a resenha do capítulo e publicá-la tão logo a edição acabasse. A maior e mais importante publicação do país, a Revista EGO, e seus leitores, não poderiam esperar. Para ganhar agilidade, o segredo era escrever à medida que as coisas iam acontecendo. Se acabasse cedo, poderia até adiantar um freela de criação de memes.
O problema era a nova reforma ortográfica, proposta por Tiririca, então ministro da educação, e sancionada pela presidência da república. Boa parte das consoantes havia sido cortada do português brasileiro e isso ainda me causava dificuldades de adaptação. Era o que alguns antigos chamavam de “axeízação do alfabeto”.
Fui salvo pelo mais eficaz dos efeitos estimulantes, a pressão do último momento, o fim do prazo. Escrevi a matéria rapidamente (que não deveria ultrapassar 70 caracteres segundo as normas de boas práticas na internet móvel. Ninguém lia mais que isso) e toquei meu indicador engordurado sobre o botão “publicar” sob o vidro do visor.
Auê até amanhecê.
Auê e fuzuê. - E aí, ai ai ui ui! - Af, é o ó. Oi, oi, oi. Oi, oi, oi.