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Para a noooo oooo oooossa alegriaaaaa! |
O maior hit da internet de todos os tempos da
última semana chama-se “Para nossa alegria” e consiste em uma cantoria
desafinada da música “Galhos secos” por
Jefferson, Mara e Suellen. Mas você já
deve saber disso se possui acesso à internet (e supondo que você esteja lendo
este texto na internet, é muito provável que você possua).
Este artigo não é sobre o vídeo da família cantora e sim
sobre a pergunta que tenho ouvido de diversos amigos: Hoje em dia qualquer besteira viraliza e qualquer pessoa que ligue uma
câmera e fale, faça ou cante qualquer bobagem é elevada ao status de
web-celebridade?
Eu diria que não, não
basta ser qualquer bobeira. Quando ainda estava na faculdade e os vídeos
chamados “virais”estavam começando a ganhar destaque e a despertar interesse
nas empresas, lembro de termos discutidos quais características faziam um vídeo
ter potencial viral.
Na época, esses vídeos eram feitos por amadores. Era a época
em que Youtube ainda era sinônimo de vídeos de péssima resolução enviados quase
exclusivamente por pessoas comuns. O que alguns historiadores chamam de “ A era
do Youtube moleque”.
O número de visualizações de alguns vídeos começou a subir
absurdamente e, claro, algumas empresas, de olho na novidade, queriam entrar na
festa. Afinal, ali estava um contador de views, era possível mensurar quantas
pessoas viram seu anúncio e ainda o espalharam por ai, coisa impossível de se
fazer na TV.
Lembro que os primeiros vídeos feitos por empresas com a
intenção de gerar interesse do público em compartilhá-los tinham cara de
amadores, propositalmente. Eram produzidos assim para se infiltrar entre os
vídeos caseiros, pois pensava-se que ninguém iria querer compartilhar
propaganda.
Com mais e mais empresas se arriscando nesse mundo novo, a
cada vídeo mais engraçadinho em que
aparecia algum produto, as teorias da conspiração começavam: “isso aí deve ser
viral de tal empresa”. Ao poucos, alguns vídeos traziam a identificação da
empresa no final. Até assumirem totalmente a autoria, investir em canais do Youtube pagos (brandchannels) e produzirem com qualidade profissional.
Não demorou até toda empresa querer ter um vídeo de sucesso
bombando pela internet, e demorou menos ainda até os oportunistas de plantão
incluírem “fazemos viral” na lista de serviços prestados. Era baratinho,
praticamente de graça, não exigia produção sofisticada nem câmeras
profissionais, diziam, e ainda seria assistido por milhares de pessoas. (Os
argumentos não mudaram muito em relação aos primórdios do marketing nas mídias
sociais, lembra?)
Bom, as empresas pediam um viral, a agência fazia um vídeo e... bem, nada garantia que
ele seria um sucesso. E logo essas agências perderam o prestígio, pois não
havia como garantir a entrega do que prometiam. Nenhum vídeo é viral por si só,
ele somente tem potencial viral. Ele só se transforma em um viral se for compartilhado
por muitas pessoas e só quem decide de vale a pena compartilhar ou não são as
pessoas.
O que faz um vídeo ter potencial viral e alcançar a glória
de ser compartilhado à exaustão e alcançar visualizações estratosféricas,
então? Na época da faculdade, tínhamos
listados algumas características que eram comum na maioria dos vídeos que
tinham sido espalhados por um enorme número de pessoas. A maior parte deles era
enquadrada nas seguintes categorias:
Engraçado: a característica mais óbvia. Se um vídeo é
engraçado, ele tem grande chance de ser compartilhado, assim como uma piada
engraçada é repetida de boca a boca de amigo para amigo. As milhares de paródias estão ai para provar.
Bizarro: essa característica nem tão óbvia só se torna
clara após assistir aos vídeos a procura de fatores em comum. Uma certa receita de sanduíche que o diga.
Inusitado: aquele vídeo que pega as pessoas de surpresas
ou que mostra situações pouco comuns. Vídeos de matérias jornalísticas, por
exemplo, tem potencial viral quase nulo, ainda mais se forem reportagens muito
sérias. Agora se um repórter é atropelado por uma vaca enfurecida no meio de
uma matéria ao vivo o potencial sobre às alturas.
Fofinho: Nesta categoria estão incluídos aqueles vídeos
cuja reação inicial é um “oooowwwn”. São
basicamente bebês fofos fazendo suas fofurices, gargalhando, brincando
serelepes, tentando conversar, etc ou cachorros e gatos fazendo suas
brincadeiras, pândegas e estripulias.
Celebridades: o objetivo social de celebridades é chamar
atenção, seja no meio que for. E elas chamam. Videoclipes, celebridades em
momentos de intimidade ou embriagadas falando merda. Não importa, celebridades
chamam atenção!
Música/pessoas cantando: pessoas cantando, sejam
celebridades ou não, seja muito bem ou muito mal.
Insinuação de sexo: seja verbal, uma dança provocante,
uma cena caliente ou qualquer insinuação de cunho sexual.
Nostálgico: resgata grandes lembranças de infância:
brinquedos, músicas, filmes, séries, etc.
Conter alguma dessas características já garante algum
potencial viral, mas se o vídeo conseguir reunir várias, o potencial aumenta
ainda mais. Pense em, por exemplo:
insinuação sexual + celebridades = Paris Hilton, Daniela
Cicareli, edredom do Big Brother (tá, vale subcelebridade também).
Celebridades + música + bizarro = Lady Gaga
Não pense, porém, que fazer um clipe musical bizarro e
engraçado estrelado por uma celebridade seminua alcoolizada junto com cachorros,
gatos e bebês caracterizados como Os Trapalhões vai ser sucesso instantâneo. Tal qual o Big
Brother, quem vai decidir é o público, e se não cair no gosto das pessoas, seu
viralzinho com fritas foi por água abaixo.
Nessas horas, também pesa bastante a força dos
influenciadores, formadores de opinião e até celebridades. Se algum desses
atores sociais disser que o vídeo é bom e o compartilhar com sua ampla rede de
contatos e influenciados, eles também acharão o vídeo bom e passarão adiante,
num fenômeno que a sociologia luta para desvendar.
Vai dizer que você
nunca achou que “Até Luiza que está no
Canadá” e “Para nossa alegria” coisas idiotas e por um momento se perguntou:
“Como essas pessoas fazem sucesso com essas porcarias e eu não?” Ou “Vou falar qualquer besteira no Youtube e
virar web-celebridade.”
Bom, o que não deve faltar é vídeo de gente cantando mal,
fazendo coisas engraçadas ou bizarras, dancinhas sexy e gatinhos e cachorrinhos
fazendo todo tipo de coisa, mas se algum blog, site ou pessoa influente vai
ver, gostar e compartilhar é outra história. Essas pessoas parecem ser
necessárias para dar um empurrão inicial para, a partir daí, o conteúdo ser
disseminado. Já vi um vídeo sair de 2
mil views para 50 mil após um post do Luciano Huck, para citar um exemplo.
Portanto, meu caro, se você também quer virar celebridade da
interwebs, além de fazem um vídeo que se enquadre em algumas das categorias
descritas, certifique-se também de ter uma rede de contatos influente e que seu
vídeo seja realmente muito bom... ou muito ruim.
Olá! Você teve paciência de ler até aqui? Jura? Para compensar o tempo perdido em sua vida, assista: